domingo, 8 de março de 2009

AMNÉSIA FOTOGRÁFICA

Mais de um ano depois, finalmente recupero a vergonha na cara de voltar a postar um texto no meu blog. Estaria se tornando um blog carnavalesco? Ou será que é só nesse mega-feriadão que tenho tempo de praticar meu esporte favorito? Bem, desta vez o que me impele a escrever é a falta de uma esperada imagem.
No último sábado (21/02), li na coluna do João Ximenes Braga, no caderno “Ela”, do jornal “O Globo”, sua discordância sobre a velha máxima de que “uma imagem vale por mil palavras”. Para tal, exemplificou com a experiência de um amigo que, cansado de sua amnésia alcoólica, decidiu registrar seus momentos “altos” a fim de poder se recordar do que havia feito. Começou com uma câmera e obteve péssimas fotos. Optou por escrever e, as poucas palavras que conseguiu registrar, davam muito mais o que pensar sobre os acontecimentos embebidos em álcool.
Assim como o colunista, também eu sempre preferi ler e escrever do que desenhar e que tais. Será que é daí que vem minha amnésia fotográfica? Quando me lembro de levar a câmera, tenho preguiça e acabo me esquecendo de tirar as fotos. Meu último acesso de amnésia foi justamente ontem, no jantar de 5 anos de minha filha, que nasceu numa quarta-feira de Cinzas em 2004.
Ela como, há quase um mês, já ganhou de presente de aniversário um gato, decidiu desde então comemorar seu dia indo a um restaurante japonês. Ela adora “salmão cru”, se pudesse comeria dia sim, dia não! Para registrar o esperado momento, já acordei colocando as baterias da câmera digital para carregar. Antes de me arrumar para sairmos, coloquei a câmera na bolsa. Estávamos indo eu, o pai, o irmão, o padrinho, a madrinha, a melhor amiga e os pais da melhor amiga. Eventão!
Chegando lá, uma surpreendente dificuldade para arrumarmos mesa. Em plena quarta-feira de Cinzas, o lugar estava lotado!
ABRE PARÊNTESES: Por que a cidade parece tão vazia neste Carnaval e, a qualquer lugar que se vá, está tudo tão cheio? É bloco, é cinema, é galeto, é restaurante japonês... Vai entender! FECHA PARÊNTESES.
Conseguimos a mesa para nove, conseguimos fazer os pedidos, nossos amigos que optarem pelo “a la carte” conseguiram ser servidos. Eu, meu marido e as crianças, que optamos pelo rodízio, ficamos a ver navios de combinados passando de um lado para o outro, esperando pelos pratos que não vinham. Meu marido reclamou, outro marido em outra mesa reclamava da demora.
A mãe da melhor amiga, que sempre leva câmera e sempre lembra de tirar fotos, fez uma linda das duas pilombetas! Eu esperava, com fome, a comida, torcendo para o tempo não fechar de vez com as reclamações e estragar o jantar. Na outra mesa, outra família tirava foto do pai segurando o bebezinho. Flashes refletindo em todas as paredes do restaurante: não posso me esquecer de tirar as fotos. Mas é melhor deixar pro final, quando tiver baixado toda a poeira...
Quando os amigos “a la carte” estavam quase terminando, começa a pingar o rodízio: missoshiru, harumaki, yakisoba, os sushis, mamãe-tô-com-sede-pede-logo-o-mate-quero-água-cadê-o-garçom, enfim os temakis!
Não sei bem do que se trata a “slow food”, mas sou definitivamente adepta do “slow eating”. Então serviço lento pra mim não é bem um problema, entende? Mas com criança, o “timing” de um jantar é definitivamente outro. Após toda essa prova zen pressa, quando acabei de comer o restaurante já estava bem mais vazio e as duas meninas brincavam láaaaaaaa no tatame desocupado. A madrinha da minha filha, cansada e com sono, já quis ir embora. Os demais “a la carte”, rapidamente satisfeitos, poderiam também já fechar a conta, que foi então pedida. Meu filho, ainda mais “slow” do que eu, depois ainda queria um mate, substituído por um ban-chá, que era cortesia e não ia dar mais trabalho no fechamento.
Pagamos e fomos embora.
A câmera não saiu da bolsa até agora, portanto muito menos a foto. Saiu essa postagem. Menos de mil palavras, que não sei se valem uma imagem do exato momento em que, após 5 anos, o aniversário da minha filha caiu de novo uma quarta-feira de Cinzas...