sábado, 7 de julho de 2018

FORA D'ÁGUA

Senti necessidade de ter um smartphone na primeira festa de aniversário de amiga de escola da minha filha. Pais tipo nada a ver comigo conversando entre si ou em seus smarts, e eu sem nenhum papel ou livro, meus eternos companheiros. Era um sábado. Na segunda o providenciei.
A vantagem do smart é que chama menos atenção. Caneta e papel são anacrônicos, enquanto o celular todo mundo usa. Chama bem menos atenção, pensam que você é normal. Além disso, é pá-pum. Escreveu e, se quiser, postou.
Daí pra frente nunca mais me apertei fora d'água: já o usei pra escrever pro meu blog em feira de anime, em banco, e hoje é a festa junina da escola da minha filha.
Ver gente até que é legal, mas tem uma hora que enjoa. Aí dá vontade de escrever.
Pena que o assunto acabou, mas a festa não. Por que é que só os pais da EDEM ou do Cap é que têm graça? E agora ainda tá tocando sertanejo pop. Dói até os ossos!

quarta-feira, 23 de maio de 2018

RE-COLHER

Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta madura. Que, de tão mordida, não se furta a ser saboreada como de costume. Cujo deleite está em saborear-se mais uma vez, como se fosse a primeira. Provar de novo o que se gosta, preenchendo o vazio da saudade. E, satisfeita, deixar estar, repousando do repasto familiar e acolhedor.

sábado, 29 de julho de 2017

TONS DO HIATO

Por vezes sinto o que uma amiga chamou de "hiato na vida".
É claro que não  tenho tantas atribulações como ela, mas também há muito que não acompanho o que vem passando no cinema. Pra falar a verdade, em lugar nenhum, só uma série ou outra de TV. De alguma forma parece que nos vimos fechadas no mundinho "casa e trabalho". O trabalho, através do qual nos realizamos, onde talvez tenhamos alguma válvula de escape, é nossa forma de comunicação com o restante do mundo. Mas a considero meio impessoal, talvez porque não seja ali que estão as pessoas mais queridas.
Dentre estas pessoas mais queridas estão certamente nossos filhos, que muitas das vezes não enxergam os pesos que carregamos, ainda que alguns venham caber também a eles, seja qual for seu tamanho, forma, ou origem. E isso dói, ter o que eu chamo de "trabalho invisível" e, por isso, nunca valorizado. E dói também não ter com quem compartilhar os bons momentos. Ser feliz sozinho é possível, sim, só que é uma sensação meio estranha.
Sendo filha única, logo me acostumei com tudo isso, ainda que não seja agradável. Também não me custou muito perceber que estamos invariavelmente sozinhos, desde o momento em que nascemos até a morte. Nunca ninguém vai saber exatamente como é  estar dentro de nós  mesmas. Não tem como.
E o que há nos "hiatos da vida"?: aquilo que costumamos de classificar com a frase "Mas isso não é vida!"; se não é vida, é o que? Não tenho a resposta pra essa pergunta, é claro. Mas não é a morte, propriamente dita.
Talvez esses "hiatos da vida", que parecem enormes vazios, virem uma obra de arte na visão de algum gênio criativo. Talvez virem apenas memórias doídas. Por serem tão sem graça, talvez tornem-se esquecimentos. Mas foram nossos processos, e talvez não tenhamos nos dado conta bem ainda de quanta saúde precisamos para ter passado por eles, nem das pessoas que nos tornamos através deles.
Somos, enfim, contínuos processos, obras abertas com seus altos e baixos, cores claras e escuras, em todos os tons, não só de cinza, se alternando o tempo todo. Ter essa oportunidade é que é lindo, mesmo que não pareça.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

NOTHINGNESS

Breathing is what keeps you alive.
And can you grasp onto it?

You breathe in and it's over.
You breathe out and it's over.
All to start it all over again.

Contemplate, then, the nothingness of all things ephemeral
and their permanent evasiveness.

domingo, 15 de maio de 2016

YOUTUBERS

Ele é chamado de lindo, e tem tanto assunto quanto um ex-aluno meu de 7 anos metido a palhaço. Prova: faz beat-box de funk, sem qualquer sonoridade mais encorpada ou sutilezas de chiados. Assim ganha tempo e toma o nosso. Mas ninguém liga, vieram aqui pra isso.
Se auto-glorifica agradecendo à platéia lotada e enlouquecida para vê-lo. Agradece o carinho de todos e deve a eles seu sucesso: "Vocês são foda pra caralho."
O evento vira uma entrevista coletiva com perguntas da platéia. No palco tem também o melhor amigo, tão Youtuber quanto ele. Não param de se admirar com a quantidade de pessoas com os bonés da griffe deles. O boné escrito "PUTO" é plágio, o original é "CANALHA", dizem.
Se são comediantes tipo "stand-up", I'm sorry, não sabem improvisar.
Silêncio. Eu sentada numa cadeira cercada por crianças e adolescentes em pé em cima de outras cadeiras, nada vejo. Imagino que deve ser assim com o Stevie Wonder assistindo a um jogo da NBA: sabe de qual time foi cesta de acordo com o som da torcida.
"Minha maior felicidade é poder trazer uma risada pra uma pessoa que está mal.  Porque se ela está mal, ela não pode ficar no mal, ela tem que sair dessa, dar risada." Caridade profunda com crianças e adolescentes tristes e incompreendidos.
Daqui de baixo, na cadeira,  parece tudo muito calmo. Mas as atrações e a mestre de cerimônias pedem para que os fãs parem de jogar coisas (?) e que deem um passinho pra trás, pois aqueles posicionados junto à grade próxima ao palco estão ficando esmagados.
Momento Wando: jogaram um sutiã no palco, e ficamos sabendo que antes tinha sido um sapato.
Tão achando lindo pessoas querendo se matar pra tirar fotos com eles. E agradecem o carinho, pois eles trabalham para a felicidade dos fãs e não seriam nada sem eles.
Não mesmo.
Pra finalizar entoam  MC Bin Laden. Também não seriam nada sem ele.
Quem seriam?

Superação de Nama-Rupa

Transitar  confortavelmente por todos os portais: da Zona Sul do Rio à Índia, daí ao Norte da Inglaterra, daí à Korea Pop, daí a Westeros, daí a Middle-Earth, which is home.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Equilíbrio

Tem horas que quero arrumar tudo,
Outras que não quero arrumar nada.

Horas que quero marcar de ver todo mundo,
Horas que não quero encontrar ninguém.

Horas que quero fazer dieta ayurvédica,
Horas que desejo a ignorância de quem come o que está em promoção no Mundial e no Guanabara.

Tem horas que quero aproveitar cada segundo com meus filhos,
E horas que quero tirar umas feriazinhas deles.

Horas que quero viajar o mundo,
Horas que quero me refugiar no interior.

Mas o que quero mesmo
É parar de pensar
No passado
No futuro
E encontrar o silêncio na pequenez do presente,
Onde nada acontece.