sábado, 14 de março de 2015

Cariocas não gostam de bancos lotados - 06/02/2015

Picture this: situação surreal num banco carioca. Lotado. Perto da hora de fechar numa sexta-feira chuvosa, sem muita cara de happy hour. O painel eletrônico que vai anunciando a senha tá bugado. Os (poucos) caixas vão gritando a senha numérica que recebemos num pedacito de papel. Me sinto numa repartição pública do INPS na década de 40. (Desculpem a licença poético-histórica: em que ano começou o INPS?). Só falta o barulho das máquinas de escrever e dos ventiladores de parede pretos e empoeirados.
Mas o espírito carioca ameniza a pressão. Conversamos como se bebendo cerveja num bar. Quando o caixa chama um número de alguém que não aparece, gritamos "Já foi!", sem que ninguém tenha combinado. E rimos. Falam banalidades enquanto escrevo. Nem tão carioca, terminada a mini-crônica farei minhas palavras cruzadas. Budistas evitam falar banalidades. Imagino que, fôssemos paulistas, por sermos ainda brasileiros, estaríamos talvez soltando umas piadinhas. Que seriam provavelmente bem mais amargas, suscitadas pelo choque que é este espetáculo de péssimo serviço!
Numa excursão no Maranhão fomos visitar o farol de Mandacaru. Interessante porque, após subirmos seus inúmeros degraus, poderíamos ver a vista de 360°. O rio, o mar, e a estreita faixa de areia clara que os separa. Para tal, saltamos do barco no cais e procedemos para a fila no portão de entrada. A visitação é gratuita e a entrada é estritamente controlada por militares, pois o farol é relativamente pequeno e pertence à Marinha.
O farol fecha às 11h30 e volta a abrir às 13h. Estávamos prestes a entrar quando deu o horário e o militar de plantão comunicou ao pessoal da fila que encerraria a visita por ora. Uns desistiram. Eu não acreditei. Imaginei que encerrariam a entrada na fila às 11h30! Fui falar com o militar expondo meu ponto de vista. "Tá escrito aí fora", foi a resposta dele. Repeti meu raciocínio acrescentando que isto estava errado, que eu não tinha vindo de longe com as minhas crianças pra perder o passeio pelo qual eu paguei! Aí veio o paulista com seu celular na mão perguntando a quem eles eram subordinados, avisando que ligaria para eles a fim de relatar a ocorrência a seus superiores. Enquanto o paulista procurava o número pela internet, voltei a "apelar" para a compaixão do militar: que decepção viajar até tão longe e perdermos a vista do farol! Depois de esperarmos em baixo do sol, suados, com sede, com calor... E à toa, pra perder o passeio, que estava no roteiro que compramos e blá-blá-blá. O militar nem olhava mais pra minha cara. E o silêncio se fez. Suspirei alto e ficamos os três olhando para ele. Ele olhou em direção ao silêncio e viu três caras tristes atrás das barras do portão. Mongrel dogs. Levantou-se rápido e, irritado, liberou nossa entrada com aquela cara de vai-logo-antes que-eu-mude de ideia. Meu filho até hoje acha que foi a ameaça-fantasma da ligação paulistana.
Chamaram a minha senha.