sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

“RAIN” ON THE BUS

Gosto muito de utilizar a técnica “RAIN”, ensinada pelo Bhante Buddharakita. Ela me auxilia bastante em turbinar a plena atenção no momento presente e obter consequentes insights.
A sigla, em inglês, tem uma conveniente correspondência com as palavras em português que ela representa.
- “R” quer dizer “reconhecer”: quando surge um pensamento ou um sentimento, ou ambos, devemos reconhecer seu surgimento.
- “A” quer dizer “aceitar”: é fundamental aceitarmos esses pensamentos e/ou sentimentos pois, se os negarmos, não entraremos em contato verdadeiro com o que se passa em nossas mentes.
- “I” quer dizer “investigar”: quando aceitamos nossos pensamentos e/ou sentimentos, é como se os víssemos cara a cara. Frente a este franco espelho, uma vez identificados, podemos investigá-los. Qual é a natureza deste pensamento ou sentimento? Por que ele surgiu? Que comportamentos, preconceitos, traumas, condicionamentos, estão sendo expressos?
-“N” quer dizer “não se identificar”: ao lembrarmos que não há um “eu” para se identificar com aqueles pensamentos e/ou sentimentos, podemos nos distanciar do acontecido, praticar o Dhamma e ir reduzindo a geração de karma, ou gerarmos bom karma.
Enfim, estava sentada no ônibus, quase lá no fundo, no calor do verão do Rio de Janeiro, quando de repente comecei a ouvir aquela música irritante produzida por celulares sem fone. O volume da música ia aumentando gradativamente e minha aversão, proporcionalmente: falta de respeito alguém obrigar os outros a ouvir gospel, ainda mais cantado por sertanejos! Como não localizava a pessoa causadora do desconforto, deu tempo de “startar” um “RAIN”. Reconheci a aversão, aceitei, investiguei e não me identifiquei com o fato. Afinal, viva a impermanência!
O som continuou se aproximando e vi que o portador de celular era um senhor negro que puxava um pouco de uma perna. Ônibus cheio, já um bom número de pessoas em pé. Resolvi ceder o lugar para o senhor, que relutou em aceitar. Aceitou. A música continuou, agora bem perto do meu ouvido, mas foi bem melhor vê-lo sentado e percebê-lo confortado pela música que ouvia.
Vagou outro lugar. Sentei. Ele saltou antes de mim e a música foi embora junto. Ficou a lembrança de que, nos milhares de renascimentos neste Samsara, todos já fomos parentes em algum momento. Por isso cai sempre bem Karuna e Metta, essa dupla imbatível!

RAIN ON ME, ALWAYS!